O segundo dia do Intercom Nacional (06/09) começou com o painel “Comunicação como campo e prática científicos: desafios de produção e circulação do conhecimento para diferentes públicos”, mediado por Sonia Virgínia Moreira, professora da UERJ e membro do conselho curador da Intercom. As palestrantes convidadas foram Adriana Omena, professora da UFU e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação (PPGCE); Cláudia Lago, professora da ECA/USP e gestora do Fórum Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes (FCHSSALLA); Thaiane Oliveira, professora do PPGCOM/ UFF e membro da Academia Brasileira de Ciências; e Verônica Soares da Costa, professora do PPGCOM/PUC Minas e líder do Grupo Bertha de Pesquisa.

Sonia Moreira abriu o painel comentando que “uma das tarefas mais difíceis no trabalho acadêmico é conseguir transmitir para as pessoas o que é feito”. Adriana Omena ressaltou o desafio de falar com cientistas e traduzir suas linguagens para a compreensão da sociedade. A professora da UFU refletiu sobre a necessidade de pensar a comunicação como prática científica e o conceito de comunicação pública da ciência, com foco no público e não apenas na academia e seus atores.

Desmonte da ciência e reconstrução científica

Um dos pontos principais do painel foi a discussão sobre o desmonte da ciência realizado nos últimos anos. Segundo Thaiane Oliveira, desmontes acontecem desde 2015, como o corte de 42% do orçamento previsto para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) realizado pelo presidente Jair Bolsonaro em 2022. A professora da UFF afirmou que esse cenário de crise é agravado por descredibilização da academia, fake sciences e consequente desmotivação dos pesquisadores. Em 2023, apesar dos ataques orçamentários terem reduzido, os ataques morais e físicos permanecem, como as agressões realizadas por membros do Movimento Brasil Livre (MBL) em faculdades.

Nesse contexto crítico, destaca-se um estudo de 2019 do Instituto Gallup que aponta que 23% dos brasileiros consideravam que a produção científica pouco contribui para o desenvolvimento social e econômico do país. Cláudia Lago ressaltou que a ciência é produzida em locais de elite onde as pessoas não têm acesso, por isso é tão fácil atacar esse sistema. Entre as soluções destacadas pela professora da USP estão a Rede Nacional de Combate à Desinformação e a comunicação da ciência.

A ciência é absolutamente importante e muda a vida das pessoas, impacta a vida das pessoas, mas ela fica muito distante do cotidiano, as pessoas não sabem disso. Então, eu acho que uma das coisas que é necessária é começar a comunicar melhor a ciência de um jeito que as pessoas consigam perceber essa aproximação.

Cláudia Lago – professora da ECA/USP

Painel formado somente por mulheres

O segundo painel da Intercom foi constituído por cinco mulheres brancas. Verônica Soares da Costa refletiu na sua apresentação sobre a representação por vezes sexista de mulheres em revistas de jornalismo de ciência, como a Galileu e a Superinteressante. Ela mostrou dados do CNPq analisados pelo projeto Parent in Science para bolsas PQ-1A (nível mais alto de pesquisadores) que apontam que homens brancos têm 58,2% das bolsas vigentes em 2023. Sobre a mesa ser composta somente por mulheres brancas, a professora da PUC Minas ressaltou a falta de diversidade racial, mas considerou um avanço.


Nos eventos científicos, em geral, a gente costuma ver painéis formados exclusivamente por homens, principalmente homens brancos, e eu acho que é muito raro ainda a gente ter um painel inteiramente composto por mulheres, que não seja para falar de questões específicas do que se considera, eu coloco entre aspas aqui, um tema de mulher ou uma discussão de gênero. Então, foi muito importante e tomara que nos próximos eventos todo mundo esteja atento também para pensar em convidar mulheres pretas, mulheres indígenas e outras contribuições também para diversificar ainda mais esse pensamento.

Verônica Soares da Costa – professora do PPGCOM/PUC Minas

Importância do Intercom Júnior na reconstrução científica

Na gestão de Sonia Virgínia Moreira como presidente da Intercom foi criado o Intercom Júnior. A professora da UERJ destaca a importância da participação dos estudantes em iniciações científicas para a reconstrução da ciência.


O estudante é o futuro, tudo que a gente puder fazer para que os estudantes tenham acesso à pesquisa, à produção de conhecimento, vai ser sempre fundamental para a gente. Então, 20 anos atrás eu estava aqui organizando com a Ivone de Oliveira, que é professora da PUC Minas. Um congresso que tinha um formato até um pouco diferente. 20 anos depois, eu vejo, conversando com vocês, esse avanço, e eu acho que as novas gerações são fantásticas.

Sonia Virgínia Moreira – professora da UERJ e membro do conselho curador da Intercom

Uma resposta

  1. Posicionamento como o da Profa. Verônica nos dão alegria e confiança num futuro mais diverso e mais acolhedor na esfera científica. Ao contar sua história ela nos inspira. Quando ela falou sobre a existência de padrões estabelecidos na ciência e que podem e devem ser questionados, eu fiquei feliz. O lugar da ciência não precisa ser estereotipado. Deve ser acolhedor.

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